Um encontro com a dor

Quando experimentamos o calvário, mistério de fé, e o partilhamos ele torna-se consolo também para quem partilha.

Quem já não sofreu? Nascemos chorando e passamos a existência humana, vivendo os desafios próprios de cada etapa e idade, apenas com uma diferença dos que vivem na fé: reconhecendo que tudo concorre para o bem dos que amam a Deus.

A minha vida, desde que nasci, não foi muito fácil. Já nos primeiros anos, comecei com desmaios e convulsões até a minha adolescência quando tive a graça da cura. Já na Comunidade Canção Nova, com trinta e três anos, fui diagnosticada com esclerodermia não sistêmica, doença que me causou medo e angústia por vários anos, mas com a ajuda e oração do Monsenhor Jonas consegui entregá-la a Jesus, e veio a mim a palavra: “Quem de vós pode, com sua preocupação, acrescentar um só dia à duração de sua vida?” (Mt 6,27). Nesta confiança a partir dali, lancei-me mais do que nunca no apostolado com o povo, com ardor e entusiasmo, aproveitando todo o tempo. Em meio aos desafios de cada dia tive a graça de nunca esmorecer. Aprendi que a vida em Deus comporta muitas renúncias e disposição para descobrir um novo significado na provação.

DSC_3228Luzia Santiago/ Foto: CN

No início do ano passado, inesperadamente, fui visitada por Deus: comecei a sentir fortes dores na região glútea direita que se estendia pela perna. Dor para andar, sentar, deitar, ficar em pé, sem posição de melhora. Com orientações médicas, entrei em repouso com injeções de corticoide no local, relaxante muscular e fisioterapia. Fui diagnosticada com síndrome do piriforme. Fiquei dependente do auxílio das pessoas mais próximas até nas pequenas coisas. Mergulhei na misericórdia de Deus, silenciei-me, ofertei a dor pelos pecadores e sofredores, cultivei o abandono e repensei a vida.

A dor física se juntou à dor da alma, somadas a muitas contrariedades e decepções com ventos desfavoráveis que insistiam em convencer-me a desanimar. A presença da Virgem do Silêncio me levava à oração do Magnificat e ao Pai Nosso entre gemidos e “ais” mergulhada em minha própria humanidade. Nunca me senti tão humana e tão vulnerável. Ao mesmo tempo, o acolhimento e a aceitação dos sofrimentos unida a Paixão de Nosso Senhor foi me colocando inteira. Como resposta de Cristo ao meu coração ressoava: Luzia, toma a sua cruz cada dia, é o caminho mais seguro da penitencia, não tenha receio de sofrer por amor, e sofra com a certeza da santificação. E eu disse: Sim! Na alegria e também na dor, e em tudo Senhor!

LUZIA SANTIAGO