A Quaresma é um caminho a trilhar, especial e oportuno para uma reflexão da própria vida. Desde a minha infância, nunca vivi uma igual a outra: herdei dos meus pais o respeito e o desejo de me deixar renovar neste tempo singular da vida cristã. Vivendo com esmero a liturgia da Quaresma até a Páscoa, experimentamos a alegria do encontro com Cristo ressuscitado, e assim acontece: a passagem da vida velha à nova, da sexta feira da paixão à ressurreição.
Quando o coração se abre para o Senhor, como os primeiros discípulos, exalamos a alegria do Evangelho em meio aos desafios cotidianos. Bento XVI escreveu no seu livro Jesus de Nazaré: “Só assim se compreendem as primeiras testemunhas da ressurreição de Cristo. Jesus, ao ressuscitar, não voltou a uma vida humana normal deste mundo como sucedera com Lázaro e os outros mortos ressuscitados por Ele. Ele saiu do sepulcro para uma vida diversa, nova: saiu para a vastidão de Deus, e a partir dela que se manifesta aos seus”.
No Novo Testamento, toca-me muito o diálogo dos dois discípulos de Emaús que, aflitos e desanimados, conversavam pelo caminho sobre os últimos acontecimentos que culminaram com a morte de Jesus na cruz. O Ressuscitado aproximou-se deles como um forasteiro, mas eles não o reconheceram, como narra São Lucas: “Eles tinham os olhos incapacitados para reconhecê-lo” (Lc 24,16). Jesus estava ali em sua inteira realidade humana, porém nova, e eles não estavam acostumados com aquele modo de presença. Na Bíblia do Peregrino diz: “Tem que abrir rasgões para mostrar-se à evidência dos sentidos”. Quando estiverem convencidos do fato, e tiverem aprendido a reconhecer seu novo modo de presença, Jesus partirá: “Abriram-se os olhos e o reconheceram. Mas Ele desapareceu de sua vista. Eles comentavam: “Não se abrasava nosso coração enquanto nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,31-32). Jesus mostrou-se aos seus de muitas formas: Maria Madalena, a primeira evangelista da ressurreição, inicialmente o confunde com um jardineiro. Como um desconhecido na praia aos seus apóstolos, pois a cegueira espiritual não os permitia ver…
Diante do panorama que assistimos: quantos estão abatidos, deprimidos, com medo, chorando no túmulo da sua existência? Nesse tempo escutemos Àquele que nos revela as Escrituras, nos chama pelo nome e nos envia a anunciar: “Eu Vi o Senhor!”.
Não tenhamos medo de testemunhar a nossa fé viva e vivida: Ele ressuscitou, verdadeiramente, Aleluia! Jesus está vivo!
Feliz Páscoa!
Luzia Santiago