Nos anos 70, houve uma grande efusão da Palavra de Deus, pela graça do batismo no Espírito Santo, em todo o Brasil, a partir da Renovação Carismática, nascida poucos anos antes nos EUA. Um dos textos bíblicos que marcou esta época foi do Livro Amós 8,11: “Virão dias em que enviarei fome sobre a terra, não uma fome de pão, nem uma sede de água, mas fome e sede de ouvir a palavra de Deus”.
Eu e muitas pessoas tivemos a graça de experimentar essa profecia, pois através dos grupos de oração milhares de católicos tiveram o seu encontro com Cristo, voltaram para a Igreja, e descobriram a força da Palavra de Deus.
Em 1976, padre Jonas realizou com os jovens da diocese de Lorena um forte trabalho de catequese e aprofundamento da vivência do Evangelho, através de um método simples e dinâmico. Começamos a fazer o diário espiritual pela I Carta de São João; foi tão eficaz que impressionou nossos pais, a paróquia e até os padres, pois se perguntavam: como os jovens conseguem entender tão claramente a Bíblia e com constância levam a sério o estudo da Palavra? A consequência foi que um grupo daqueles jovens aceitou o desafio de viver em Comunidade, para como discípulos e missionários, evangelizarem.
A Canção Nova teve a sua origem na Sagrada Escritura. Nós nascemos da Palavra, vivemos da Palavra e nos alimentamos da Palavra a cada dia, para que ela se torne vida em nossa vida.
Nesses anos temos sido testemunhas do poder do Evangelho àqueles que têm fome e sede da Palavra do Senhor.
O Cardeal Van Thuan, Vietnamita, viveu treze anos na prisão, dos quais nove em total isolamento, deixou-nos no seu livro ‘Testemunhas da Esperança’ um belíssimo testemunho: “Na prisão de Phu-Khanh, os católicos dividiam o Novo Testamento, que haviam trazido às escondidas, em pequenos folhetos para serem distribuídos e memorizados. Uma vez que o piso era de terra ou areia, quando ouviam os passos dos guardas, escondiam a Palavra de Deus sob o solo. De noite, no escuro, cada um recitava, seguindo um rodízio, a parte que tinha decorado. Era impressionante e comovente ouvir, no silêncio e escuridão, a Palavra de Deus, sentir a presença de Jesus, o ‘Evangelho vivo’, recitado com toda a força espiritual; ouvir a oração sacerdotal, a paixão de Cristo.
Os não cristãos escutavam com respeito e admiração o que chamavam de ‘Verba sacra’ – palavra sagrada. “Muitos diziam, como experiência pessoal, que a Palavra de Deus é espírito e vida”.
Luzia Santiago
Cofundadora da Comunidade Canção Nova